Trecho do livro "My Girl" (Página 163):
(a data de 29 de Junho de 1985)
Algum tempo depois da chegada do Beco [Senna], nos reunimos na sala da lareira para jantar. Estava muito frio naquela noite e todos nós sentamos lá conversando. Ele comentou com meu pai:
“Nossa, seu Amilcar, as pessoas estão me reconhecendo cada vez mais por aí. É impressionante o quão longe minha profissão pode chegar. Não imaginava que tudo aconteceria tão rápido!”
“Sim, Ayrton! Espero que você perceba a responsabilidade que isso traz. Nosso povo sofre muito, tem uma autoestima muito baixa. A miséria e o desemprego são grandes problemas em nosso país. E seu nome chega a países no exterior. Lá fora, eles veem a gente como um país inexpressivo, acham que aqui só moram indígenas. Claro, eles só veem coisas ruins nas notícias sobre nós, e você como brasileiro, está nos representando lá fora.”
“Você sabia que, outro dia, um cara pulou na pista no final de uma corrida para me dar uma bandeira do Brasil? E isso me deu vontade de parar e pegar a bandeira.”
“Bem, você deveria fazer isso! Por que você não pegou a bandeira?” meu pai perguntou.
“Ah, eu não tive reação na hora! Eu não tinha certeza do que isso causaria”, respondeu Beco.
“Então, da próxima vez que acontecer e você sentir vontade, pare e pegue nossa bandeira. Com essa atitude, você levará o país inteiro com você. Temos uma imagem infeliz. Sofri! E você deve perceber o privilégio de chegar onde está agora e sua responsabilidade como nosso representante para o mundo. Temos que agradecer a Deus pela vida privilegiada que temos, não podemos esquecer os que não tiveram a mesma sorte”, disse o pai.
Beco ficou em silêncio por alguns momentos. Ele certamente estava pensando na responsabilidade como homem público que sua carreira impunha.
Sei que meu pai foi um dos homens que mais respeitou e admirou durante a vida e acredito que essa conversa criou um vínculo entre eles. Quanto ao pai, sei que esta conversa representou uma oportunidade de ajudar na criação daquele jovem brilhante. Adoro quando uma pessoa iluminada encontra outro ser iluminado e juntos produzem ainda mais luz.
Trecho do livro "My Girl" (Página 264):
No GP do Canadá, em Montreal, no dia 15 de junho, Ayrton fez a pole position, mas Nigel Mansell forçou a largada, disparando na frente, e conseguiu a segunda posição, tentando segurar os outros carros atrás dele. Foi uma corrida difícil para a Lotus devido à superioridade dos motores Williams e McLaren. Ele terminou a corrida em quinto lugar.
O GP dos Estados Unidos aconteceu no dia 22, em Detroit, e Ayrton teve uma vitória emocionante. Ele largou na pole position, mas na primeira troca de pneus perdeu posições, voltou na oitava colocação, teve uma recuperação incrível no circuito de rua e venceu a corrida. Pela primeira vez, ele parou na volta da festa para pegar a bandeira brasileira de um torcedor. O Brasil explodiu de alegria, enquanto eu tive o privilégio de saber de onde veio sua motivação para tomar tal atitude.
Estávamos na fazenda assistindo a corrida e eu disse, surpreso:
"Pai! Olhar! Ele pegou a bandeira!”
A quarta parte da Entrevista concedida por Adriane Yamin ao Programa de TV da Eliana sobre esta história. Clique na imagem a seguir:
